Vídeos percorrem grupos de WhatsApp, rádios das equipas noturnas crepitam com avisos e cientistas apressam-se a verificar. Parece organizado. Sente-se como algo novo. E está a acontecer rapidamente.
Da primeira vez que vi, a aurora ainda embrulhava o azul-lilás sobre a água e o convés cheirava a gasóleo e corda molhada. Um círculo de baleias mantinha posição entre a rede e uma mancha de biqueirões, bocas mal rompendo a superfície, caudas a desaparecer no ondular. A tripulação calou-se, como se uma igreja tivesse embarcado. Prendi a respiração sem dar conta. O imediato cortou o motor até um murmúrio respeitoso. Uma cria espreitou para a luz, ladeada por dois adultos, enquanto outras pulsavam um véu de bolhas como uma linha desenhada. Depois, a formação apertou-se.
O dia em que o mar revidou
O que as tripulações chamam de “a roda” é uma coreografia que ninguém nestas rotas diz já ter visto diante do aparelho de pesca. As baleias não se assustam e dispersam; consolidam-se, viram-se para dentro e rodam devagar, mantendo crias e juvenis no centro. Na orla exterior, um ou dois adultos destacam-se para enfrentar a aproximação, arqueando e batendo na água como se traçassem um limite invisível. Não é o carrossel alegre de uma fúria alimentar. Isto não foi uma roda de alimentação — foi uma barricada.
Na costa norte do Peru, no final de agosto, um mestre filmou catorze jubartes a formarem um anel enquanto a sua traineira se aproximava de uma mancha de isco. As baleias mantiveram-se por quase doze minutos antes de deslizar para sul num agrupamento apertado, escoltando uma cria como uma equipa de segurança. Uma semana depois, a 600 milhas náuticas oeste das Ilhas Line, palangreiros relataram cena semelhante: um círculo frouxo de baleias, que se contraía sempre que o aparelho era largado e expandia assim que o material era recolhido. Cientistas independentes que analisaram as gravações assinalaram que a postura e espaçamento têm claramente as marcas de defesa cooperativa, não de confusão. “É agrupamento intencional”, disse-me um.
Porquê agora? Parte da resposta está na sobreposição confusa entre clima e comércio. Anomalias de temperatura empurram as presas para zonas mais profundas ou novos corredores, logo as frotas seguem — e as baleias também. Com tráfego intenso e margens curtas, os encontros escalam. As jubartes são notoriamente culturais; aprendem umas com as outras, partilhando cantos, rotas de migração e, sim, truques novos. Se o aparelho de pesca se comporta como um predador persistente, as baleias podem estar a testar uma resposta coletiva inspirada nos encontros com orcas, adaptada para redes e cabos. O ensino social pode alastrar-se numa população como fogo em erva seca. Parece que estamos a assistir à propagação de um comportamento em tempo real.
O que fazer quando o círculo aparece
Os capitães que evitaram o pior adotaram uma manobra simples que chamam de “espiral silenciosa". Reduz-se a velocidade para menos de 3 nós, passa-se a neutro e deixa-se ao ralenti durante 90 segundos, depois faz-se um círculo lento e a aumentar, mantendo o aparelho de pesca a sotavento e pelo menos 200 metros de distância do anel exterior das baleias. Recolhem-se quaisquer folgas, para manter as linhas verticais e não caídas. Se houver drones a bordo, lança-se um por um minuto para ver se há crias dentro do círculo. Esperar mais doze minutos. Parece uma eternidade. Não é.
Os erros mais comuns começam com a impaciência. Apressar a recolha quando as baleias estão em postura defensiva prende-te à cena e aumenta o risco. Mantém a conversa de rádio calma. Se precisares mesmo de largar aparelho, faz em pouca profundidade e prepara-te para abortar depressa. A evasão dinâmica funciona — um grau de desvio durante uma hora pode poupar o dia inteiro. Todos conhecemos aquele momento em que o plano falha e há mãos nervosas nos comandos do guincho. Deixa acalmar. Sejamos honestos: ninguém faz sempre isso todos os dias. As tripulações que se mantiveram fora de problemas dizem-me que agora tratam o círculo como uma zona escolar — tudo mais devagar, tudo mais deliberado.
Há também uma questão de equipamento. Boias de alto contraste e linhas silenciosas ajudam as baleias a “lerem” a coluna de água. Ligações frágeis que arrebentam com o puxão de uma baleia reduzem o trauma se houver contacto. Algumas frotas estão a testar armadilhas com libertação temporizada e acionadores acústicos que levantam o aparelho sem corda vertical. Não é preciso adaptar o barco inteiro para começar. Um conjunto de ligações frágeis e um cartão plastificado da “espiral silenciosa” ao leme já mudam a cultura. Nenhuma rede vale a vida de uma baleia.
“A primeira vez que se formaram à nossa frente, pensei que estávamos a ver algum comportamento alimentar estranho. Depois vi a cria lá dentro. Recuámos, fizemos a espiral e elas simplesmente… abriram uma porta”, conta Javier C., capitão com vinte temporadas no Pacífico Leste.
- Reduz para menos de 3 nós e deixa ao ralenti por 90 segundos antes de qualquer manobra.
- Mantém pelo menos 200 metros do aro exterior; recolhe folgas para manter as linhas verticais.
- Espera doze minutos; se o círculo persistir, ajusta o rumo um grau durante uma hora.
- Adiciona ligações frágeis nas linhas verticais e usa boias de alto contraste para melhor visibilidade.
- Usa um drone para verificar a presença de crias; em caso de dúvida, afasta-te e regista a observação.
A perspetiva mais ampla, e o que nos pede
O Pacífico sempre foi um livro de trocas: tempo por peixe, gasóleo por milhas, risco por recompensa. A nova formação das baleias escreve mais uma linha nesse registo. Sugere inteligência sob pressão, defesa social germinada num grupo e imitada por outros, uma lição a viajar milhares de quilómetros por canto e sombra. Comunidades em terra sentem o eco. Pescadores das ilhas, navegadores maori e polinésios, tripulações chilenas com avós que liam o mar por aves e ondulação — muitos dizem que o círculo é um aviso para abrandar o ritmo do trabalho, não uma linha inimiga a quebrar. Se as baleias mudam as regras, também podemos mudar as nossas. Não será perfeito. Haverá dias em que vento, quotas e sorte se cruzam. Mas gestos pequenos e repetidos — a espiral, as ligações frágeis, a hora de paciência — somam-se a menos cicatrizes nas baleias e em nós.
| Ponto-chave | Detalhe | Interesse para o leitor |
| Comportamento de círculo defensivo | Jubartes formam círculos virados para dentro, mantendo crias dentro e rodando lentamente quando se aproximam frotas. | Perceber o que está a ver no mar ou nos vídeos — e por que é importante agora. |
| Manobra da “espiral silenciosa” | Reduz para menos de 3 nós, deixa ao ralenti, aumenta o círculo a sotavento do aparelho, mantém 200 m de distância, espera doze minutos. | Passos práticos que qualquer mestre ou observador pode reconhecer e promover para reduzir riscos. |
| Ajustes de equipamento eficazes | Ligações frágeis, boias de alto contraste, ensaios de recolha sem cabos, mais linhas verticais e menos folgas. | Mudanças de baixo custo que reduzem enredamentos e ganham tempo quando as baleias resistem. |
Perguntas frequentes:
O que é exatamente o “círculo defensivo”? É um círculo apertado de jubartes, com as cabeças viradas para dentro e crias no centro. Os adultos rodam e por vezes batem na superfície ou soltam bolhas na periferia. De cima parece uma margarida e surge quando redes ou palangres se aproximam.
Isto é perigoso para as tripulações? Pode ser, se o aparelho já estiver lançado e tensionado. A janela mais segura é antes de agir: abranda, aguarda e evita folgas onde as baleias possam acelerar. A maioria das tripulações relata que o círculo se desfaz quando os barcos dão espaço.
As baleias estão a atacar os barcos? Não. Não há sinais de agressividade contra os cascos. O comportamento é de agrupamento defensivo em torno dos mais vulneráveis. Pense num controlo de multidão, não numa investida.
O que podem as frotas mudar já? Adotar a espiral silenciosa, instalar ligações frágeis, marcar as linhas claramente e treinar as equipas noturnas a reconhecer o círculo. Partilhar posições para permitir evasões rápidas e dinâmicas, em vez de encerramentos rígidos.
O que podem os consumidores fazer em casa? Escolher pescado de programas que apoiem material seguro para baleias, apoiar ensaios sem cordas e partilhar informações comprovadas em vez de especulação. Pequenas escolhas mantêm a pressão no sistema na direção certa.
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