O pior do networking não são os apertos de mão moles nem o vinho morno.
É a sensação, no caminho para casa, de que acabaste de colecionar um punhado de nomes com quem nunca mais vais falar. Costumava ficar debaixo das luzes brancas dos bares de hotéis em Londres, a ensaiar frases inteligentes enquanto o crachá se colava à camisola de lado, e saía de lá com os bolsos cheios de cartões e a boca cheia de sorrisos educados. No Metro, os cantos dos cartões espetavam-se na perna e eu prometia a mim mesmo que, “desta vez, ia mesmo fazer o follow-up.” Depois chegava a segunda-feira. Depois chegava a vida. E se a abordagem toda estiver errada, e os truques estiverem a estragar aquilo que queremos mesmo construir?
A noite em que deixei de distribuir cartões de visita
Numa noite de novembro em Shoreditch, vi uma copywriter apresentar-se a um designer, fazer duas perguntas e depois pedir licença para “dar a volta ao espaço”. Nem ouviu o fim da frase dele. Olhei para o meu próprio monte de cartões, senti-me ridículo e voltei a enfiá-los no bolso do casaco. Nessa noite, fiz uma coisa de diferente: decidi ser útil, uma vez, antes de falar de mim. Não era bem uma estratégia – era mais um desafio comigo próprio.
A primeira pessoa que conheci era um fundador nervoso que não parava de alinhar o punho da camisa. Andava à procura de alguém de PR que percebesse de tecnologia climática. Eu conhecia uma jornalista apaixonada por esse tema e uma pequena agência em Bristol que trabalhava nisso de forma discreta e competente, por isso ofereci-me para enviar um email a conectar ambos. Não me promovi. Nem expliquei o meu papel até me perguntarem. A caminhar para casa na chuva miudinha, a cidade parecia mais suave.
Rouba a energia do anfitrião
Nos eventos, fazemos fila pelas bebidas e fingimos que não estamos sozinhos. Os anfitriões circulam, apresentam pessoas e ligam as peças do espaço. Podes roubar essa energia sem precisas de crachá ao pescoço. Em vez de andares à procura de oportunidades, age como a pessoa que está atenta a quem se põe junto à porta de saída. Pergunta o que os trouxe ali. Ouve tempo suficiente para perceberes o detalhe que importa.
Quando mudas para modo anfitrião, deixas de colecionar e começas a conectar. As pessoas lembram-se mais de como as fizeste sentir do que do que disseste, e a simpatia faz a competência parecer maior. Não é fingir generosidade; é criares pequenos momentos de segurança. Nota-se na mudança de tom quando alguém percebe que não estás só à espera da tua vez para falares.
Porque é que essa pequena mudança funciona
A maioria das salas está cheia de receio social silencioso. Agir como anfitrião reduz esse medo nos outros e, por arrasto, em ti. Perguntas: “Quem é que seria útil conheceres hoje?” e de repente estás a fazer de elo de ligação, não de caçador. Muda a tua postura. Muda a noite.
O três-passos suave: perguntar, ancorar, dar seguimento
Os amigos de marketing adoram métodos, e prometo não dar-te um triângulo. Mas há um ciclo simples que mantém as relações humanas. Pergunta algo real. Ancora num próximo passo que não seja vago. Faz seguimento enquanto a faísca ainda está quente. Não é vistoso nem vai tornar-te viral, mas vai tornar-te alguém de confiança.
Perguntar algo real pode ser tão simples como: “Qual é a decisão que anda presa na tua secretária esta semana?” Essa pergunta abre uma porta. Ancorar é onde a maioria se perde; é um micro-gesto como “Envio já o modelo que usei nisso, e se ajudar, marcamos dez minutos na sexta-feira.” O seguimento é onde começa a amizade. Escreve um bilhete curto no comboio enquanto a voz dos altifalantes murmura o próximo apeadeiro e carrega em enviar antes de mudares de ideias.
Redes fortes constroem-se entre reuniões, não dentro delas. O velho método celebra a sala; o modo útil celebra o que acontece depois dela. A tua reputação cresce nesses pequenos gestos simples. É a textura da confiança.
O favor de cinco minutos
Roubei esta do gestor de produto em Manchester que jurava por ela no pior da pandemia. Oferece um favor que consigas fazer em cinco minutos ou menos, e sê específico. Partilha uma linha de feedback sobre um portefólio, faz uma introdução única e com contexto, envia o anúncio de emprego que viste no Slack, escreve um testemunho em duas frases. Pequeno é honesto. Pequeno é repetível.
Uma designer chamada Aisha mandou-me mensagem depois de um pequeno-almoço, preocupada por mudar de agência para cliente final. Não tinha emprego para ela. Mas tinha três gestores de recrutamento que liam a minha newsletter. Perguntei se podia partilhar o link do portefólio dela com uma frase. Duas semanas depois, tinha três entrevistas e uma proposta.
Todos já tivemos aquele momento em que alguém desconhecido faz algo pequeno mas funciona como um voto de confiança. A bondade fica porque não é fingida, nem cara. É sentir que alguém te reparou numa sala cheia de barulho. Sendo honestos: ninguém faz isto todos os dias. Uma ou duas vezes por semana muda tudo.
Follow-up que não parece perseguição
A palavra “follow-up” cheira a café requentado e culpa. Tenta outro ritmo. Envia uma breve nota de áudio com o som da chaleira ao fundo: “Ainda a pensar no teu planeamento de lançamento. Queres a folha Excel que usei na primavera passada?” Faz com que se sintam amigos, não alvos. Transforma a rotina numa conversa.
Relembra o momento partilhado para não soar mecânico. “Falaste do investidor que odeia slides, por isso aqui tens um modelo de narrativa em uma página.” Acrescenta uma frase que não te custa nada mas mostra que ouviste: “Espero que o cão tenha recuperado do brinquedo.” Se prometeste algo, entrega rápido. Se só estás a acenar, traz um link útil ou uma pergunta, não só um “só a lembrar”.
Pareceu-me passar uma pequena tocha numa sala cheia. É isso que faz um bom follow-up. Dá a alguém uma luz para continuar, e essa pessoa lembra-se de onde veio. Curiosamente, tu também.
Constrói um círculo, não uma pilha
O modelo antigo empilha contactos como blocos de Jenga. Alto, precário, impressionante no LinkedIn. O melhor é circular: um pequeno grupo vivo que se alimenta mutuamente. Quatro a oito pessoas de diferentes áreas que se encontram de vez em quando, o suficiente para manter a ligação. Rodem quem define a agenda. Mantenham informal e verdadeiro.
Começámos um pequeno-almoço numa padaria em Brixton às 8h15 das quintas-feiras. Telemóveis fora, pastéis ao centro, um tema para quarenta minutos. Alguém partilhava um dilema complicado enquanto a máquina do café chiava, dávamos ideias, trocávamos dois micro-favores e marcávamos nova data. Ninguém vendia. O grupo fazia as vendas por nós, mais tarde, em salas onde não estávamos.
A generosidade multiplica-se mais rápido do que a autopromoção. Quando o círculo ganha ritmo, as apresentações fluem porque as pessoas sentem segurança e orgulho em recomendar-te. Constróis reputação pela associação, coisa que discurso de elevador nenhum iguala. A confiança acumula-se no silêncio, como um tacho que nunca chega a ferver de mais.
Para os tímidos e os cépticos
Se o networking te faz querer esconder-te na casa de banho, não tens defeito. Talvez só odeies fingir. Experimenta gestos pequenos que não parecem disfarce. Chega um pouco mais cedo, ajuda o organizador a arrumar cadeiras, e pergunta ao primeiro que vires: “O que te trouxe cá hoje?” Parece simples porque é. O simples é amigo dos nervos.
Guiões ajudam quando a garganta seca. “Sou novo por aqui – posso juntar-me?” ou “Estou numa missão de sair daqui com uma boa conversa, e esta parece uma.” Se és céptico em relação ao jogo todo, escolhe uma experiência nova em vez de mudares tudo. Oferece um favor de cinco minutos a alguém. Marca no cronómetro. Vê o que acontece em uma semana, não num ano.
A verdade escondida à vista é que quase todos se sentem desajeitados. Têm medo do juízo sobre o título ou que o aperto de mão pareça “suado”. Enfrenta o medo com honestidade: “Eu também estranho sempre isto.” Vais ver ombros a relaxar. É aí que começa o verdadeiro.
O que aprendi a fazer isto durante um ano
Segui a atitude de anfitrião durante doze meses e só registei conversas que deram em algo. Os “algos” surpreenderam-me. Um CFO discreto apresentou-me a um programa de bolsas que desconhecia. Um jovem de marketing convidou-me a julgar uma competição estudantil em Leeds, onde conheci uma investigadora que mais tarde salvou um projeto meu de um erro caro. Nada disto se parecia com o prémio que julgava perseguir nos bares dos hotéis.
Disse não à vontade de estar em todo o lado. Apontei para menos salas, mas melhores, com intenção clara. Dei favores de cinco minutos como confettis, mas mantive uma lista para poder ver o que resultava. Os follow-ups pareciam postais vindos de uma vida que estava a construir com os outros e não apenas para eles. A diferença sentia-se.
O trabalho melhorou. Não cresceu, ficou melhor. Encontrei colaboradores que não precisavam ser convencidos, clientes que me apresentavam antes de eu pedir, amigos que levantavam questões difíceis quando as minhas ideias eram demasiado polidas. A rede deixou de ser armadura e passou a ser comunidade. Isso tornou-me mais corajoso no trabalho e mais meigo nos dias em que tudo corria mal.
Os detalhes práticos que mantêm isto humano
Os telemóveis ajudam se forem usados com leveza. Guardo uma nota no ecrã inicial com “pessoas a acalmar” e três linhas junto a cada nome: o que lhes importa, o que prometi, o que pode agradá-los. Impede que a carga mental se torne procrastinação. Todas as sextas, escolho dois nomes e mando uma mensagem a cada um. Só isso.
Apresenta pessoas de modo a não lhes fazer perder tempo. Pergunta a ambos primeiro. Inclui duas linhas de contexto cada, uma linha sobre porque devem falar agora, e deixa claro como podem recusar. Se mais tarde te agradecerem, toma nota. Se não, deixa passar. O ponto é o padrão, não o aplauso.
A vantagem silenciosa pertence a quem se lembra dos detalhes. Não são grandes gestos, só o nome da filha que entrou para a escola, a data do lançamento do produto, a padaria favorita. Anota enquanto ainda cheiras o café na manga. Usa uma vez, no momento certo. Assim é que de conhecido se faz aliado.
Quando a sala é online
Algumas das melhores salas já não têm paredes. Comunidades online podem ser lugares cínicos, mas também cheios de recantos generosos. Anda por lá uma semana com intenção. Vê quem faz boas perguntas, quem responde com atenção, quem não precisa de se exibir. Manda mensagem privada a um deles e diz exatamente porque é que o post ajudou. Oferece algo em troca, mesmo que seja só uma revisão de um rascunho.
Já vi grupos de Slack mais frios que o mármore e conversas de WhatsApp que salvaram vidas. A diferença é sempre a mesma: pessoas aparecem com histórias e favores, não só slogans. Partilha os teus apontamentos improvisados daquela palestra. Edita em direto o resumo de alguém para uma candidatura a prémio. Oferece-te para organizar o próximo café virtual e traz uma pergunta parva: “O que é que o teu professor da primária errou sobre ti?” Vais ficar surpreendido com a rapidez com que os bons se aquecem.
Experimenta isto esta semana
Escolhe uma pessoa que anda nos arredores da tua vida profissional. Manda uma mensagem com uma frase de agradecimento, uma oferta que demora cinco minutos, e um próximo passo concreto. Não peças nada ainda. Espera pelo ritmo deles. Se houver ligação, a porta abre-se sozinha.
Vai a um evento e decide ser o anfitrião não-oficial das pessoas desajustadas junto à mesa dos bolos. Apresenta dois desconhecidos que falaram do mesmo desafio. Sai cedo e, no autocarro de volta, envia o email prometido antes que te esqueças. O calor está no fazer, não no pensar em fazer.
Se estiveres com coragem, começa um círculo pequeno. Quatro pessoas, um pequeno-almoço, quarenta minutos, um tema. Num sítio que cheire a pão fresco. Mantém isso uma vez por mês durante três meses para ver se pega. Se sim, vais perceber pelo som das oportunidades no telemóvel quando menos esperares.
Esta abordagem não te vai tornar o mais barulhento da sala. Vai tornar-te naquela pessoa de quem falam quando não estás presente – e não da forma que temes. Isso é ganhar. E se experimentares, nem que seja por uma semana, vais notar outra coisa: a sala começa a parecer tua. O que farias com esse novo alívio?
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